quinta-feira, 16 de maio de 2013

Os documentos da História: uma iniciação do historicismo aos Annales

Podemos considerar que foram os historicistas alemães os precursores da discussão acerca da verdade, do método e dos documentos no ofício do historiador. Júlio Bentivoglio salienta que o historicismo possui uma dívida com o pensamento de Chlaudenius, autor que, no século 18, apresentou concepções avançadas para a pesquisa histórica. Chlaudenius teria destacado o ponto de vista dos sujeitos históricos e dos historiadores-narradores, revelando que o conhecimento histórico é marcado pela crítica, tanto da perspectiva do historiador, quanto dos testemunhos. Isso não quer dizer que o trabalho estivesse contaminado pela subjetividade, que impossibilitaria o método, mas sim que era preciso reconhecê-la como uma ferramenta para a compreensão correta sobre a verdade.  

Bentivoglio apresenta outros postulados do historicismo alemão, como: a compreensão do passado, a busca por objetividade, as técnicas de história documental, como a desconfiança dos testemunhos para que se evitasse a reprodução acrítica do que os documentos diziam, o cuidado com o anacronismo (Niebuhr); a fabricação de uma agenda científica para os historiadores prussianos, que versava a proposta de reunir os fatos, procurando os nexos, identificando suas forças motrizes e os reproduzindo por meio de uma exposição narrativa, ou seja, seguir procedimentos científicos e não abandonar a atividade criadora em seu ofício (Humboldt); a separação da história à literatura ficcional, pois embora o discurso escrito fosse parecido, o historiador não poderia inventar os acontecimentos através de sua imaginação como o literato (Gervinus).

Contudo, os autores que mais se destacaram no historicismo alemão do século XIX foram Droysen e Ranke. O primeiro escrevendo um manual de teoria da história que ainda hoje é lido, por sua composição epistemológica particular; e o segundo, o historiador de uma produção vasta concebida pelo domínio da prática e pela defesa do método caro ao seu trabalho. Ranke, assim como outros historicistas, possui uma nítida inspiração da história de Hegel, quando expõe que o ponto de vista do historiador deve ser divino e a verdade acerca do tema retratado deve permanecer única mesmo que várias obras sejam escritas. De acordo com Pedro Caldas, a busca por objetividade de Ranke fez com que ele negasse um grau de subjetividade. Que grau era esse? A subjetividade vetada é aquela caracterizada pelo simples arbítrio, pela atribuição prévia de um sentido ao texto. Por isso, o historiador não deve ler o texto com preconceitos ou significados previamente determinados, do contrário, toda investigação será ociosa e a verdade nunca encontrada além do “já sabido”.

Ranke desenvolveu um pensamento crucial à discussão acerca dos documentos e fontes históricas. O autor desconfiou dos relatos sobre o passado, criticando àqueles pesquisadores que faziam história com base no que foi dito por outros a partir de outras histórias, por isso se segurou na autoridade exclusiva do imediato e na importância das fontes. Entretanto, ao contrário do que comumente se acredita na comunidade de historiadores, de acordo com Pedro Caldas, Ranke critica a passividade perante os documentos, pois estes não seriam a residência fixa da verdade, mas somente “papéis mortos” que a vida se revelaria pouco a pouco quando o espírito do leitor (a maneira da interpretação luterana) penetrasse no texto. Não é a imparcialidade que caracteriza a obra de Ranke, porém seu receio de tomar partido, uma cautela fundamental para a cientificidade, conforme argumenta Caldas. A importância de Ranke se dá não somente pelo que ele defendia, mas também pela recepção do autor, que acabou causando uma formação discursiva cara a historiografia moderna do século 20. Vejamos do que se trata essa recepção interpretativa.

Peter Burke atribui à crítica que foi feita a prática historiográfica de Ranke mais aos seus seguidores (os rankeanos) do que propriamente a ele, porém, não há dúvidas que alguns desses elementos aparecem também no trabalho de Ranke. Usualmente o autor virou uma sinonímia do historicismo, o que acreditamos ser uma consideração problemática visto a gama de historiadores heterogêneos que se inserem a essa corrente. A primeira crítica a Ranke é dirigida em relação à sua suposta defesa da neutralidade, uma interpretação da exposição na qual o autor diz que “quer fazer a história do modo que ela aconteceu”. A busca da verdade por Ranke lhe valeu a alcunha de historiador eunuco por Nietzsche, quando o filósofo disserta sobre a “febre da história” que marcava o momento intelectual da crítica à metafísica em prol da consciência histórica. Mais do que isso, a historiografia moderna criticou a história rankeana por ela ser eminentemente política, eixo a partir do qual submetiam as outras esferas da sociedade. Por conta desse privilégio do político, os historiadores rankeanos faziam uma espécie de hierarquização dos documentos, dizendo que os documentos escritos e oficiais, ligados ao Estado e preservados em arquivos, eram mais importantes e confiáveis que os demais. Nada incomum, se situarmos esses historiadores em seu contexto social do período. Boa parte desses autores integrava os projetos de Estado-nação e unificação da Alemanha, alguns como conselheiros diretos do rei.

Outra corrente historiografia, a Escola Metódica Francesa, seguia uma linha parecida (de condução da pesquisa) a dos “rankeanos”. Priorizava os documentos escritos aos quais à crítica do historiador só deveria se reportar para destruir informações ilusórias, nunca criando outras. Em busca da verdade, Langlois e Seignobos, expoentes desta vertente, dizem que a crítica apenas classifica, nos mostra probabilidades criando etiquetas: afirmação sem valor, afirmação suspeita (fortemente ou fracamente), afirmação provável ou muito provável, afirmação de valor desconhecido. Esses autores procuravam adotar um modelo de história que estivesse adequado a ciência natural que, embora constituísse um procedimento próprio, nunca poderia entrar em confronto com as ciências físicas consideradas “exatas”.

Segundo Peter Burke, o surgimento da chamada “Nova História” no século XX rompe com o paradigma tradicional da historiografia, que era visto como o único jeito de fazer se história. Os historicistas e os metódicos são considerados os representantes deste paradigma tradicional, que não raras vezes (ambos) são chamados de positivistas, por conta da leitura que os aproxima das ciências naturais e da tentativa de neutralidade. Para Burke, algumas mudanças foram claras em relação ao modo de fazer história tradicional. Com a Escola dos Annales, há o interesse por toda a atividade humana, tudo tem um passado e uma história. Daí, a expressão “história total” cara aos autores dos Annales. Desta maneira a história política deixa de ter privilégio sobre as demais, aliás, devido à inspiração marxista, apontada por Jacques Julliard, a política é relegada ao segundo plano, pois estaria ligada aos acontecimentos que seriam apenas espumas trazidas pelas ondas do mar da história de longa duração, protagonizada pelo econômico e social (expressão de Braudel, da segunda geração dos Annales).

A partir da Escola dos Annales, muito em função do interesse por toda a atividade humana, houve uma expansão da documentação no trabalho do historiador, deixando de ser restrita aos documentos escritos e oficiais produzidos pelo Estado. Nesta geração de pesquisadores, todos os documentos passam a ser utilizados como evidências: os documentos orais e visuais, os objetos e utensílios, as estatísticas e os dados, fabricados em diversas esferas da sociedade com as quais a pesquisa pretende investigar. Tudo que for indício da atividade humana é incorporado à documentação da pesquisa história, pois como escreveu metaforicamente Marc Bloch, o historiador deve ser como o ogro da lenda que fareja carne humana atrás de sua caça.

A defesa da interdisciplinaridade pelos Annales provocou a inserção de outras ciências humanas e sociais como auxiliares na pesquisa histórica. Mais do isso, conforme salienta Burke, a Nova História rejeita a ideia de história objetiva de Ranke, a que queria contar “os fatos da maneira que eles aconteceram”. Pois, embora a história seja um conhecimento cientificamente conduzido através de um método, a objetividade é impossível sem a subjetividade, pois nossas mentes não refletem diretamente a realidade, mas só percebemos o mundo através de uma estrutura de convenções, esquemas e estereótipos, um entrelaçamento que varia de uma cultura para outra. Nossa percepção dos conflitos é certamente mais realçada por uma apresentação de pontos de vista opostos do que por uma tentativa de articular um consenso. Segundo Canclini, essa exposição da Nova História está baseada na crítica à consciência absoluta do sujeito cartesiano feita inicialmente por Nietzsche, que descreveu a genealogia da moralidade da consciência cristã ocidental, Marx, que particularizou as consciências históricas conforme os interesses de classe e, Freud, que diagnosticou os conflitos internos da consciência, onde “o ‘eu’ não é senhor dentro da própria casa”.

Embora já houvesse a atenção de alguns autores historicistas para o caráter subjetivo da pesquisa historiográfica e para a necessidade da crítica do pesquisador frente aos documentos, foi mesmo com os Annales que ela foi, pelo menos, popularizada e sintetizada. Jacques Le Goff, integrante da fase tardia do Annales, num artigo escrito no final do século XX, advoga a importância de tratar os documentos como monumentos. Para o historiador, os monumentos nunca são neutros, nem a própria existência dos mesmos, estes só chegam até o presente por conta de forças impostas e vencedoras do passado que querem transmitir algum tipo de imagem da sociedade que os produziram. São as escolhas dos historiadores que determinam quais monumentos que serão utilizados como documentos, mas os dois são uma coisa só. Le Goff critica Fustel de Coulanges, autor que teria dito que “a única habilidade do historiador consiste em tirar dos documentos tudo o que eles contêm e em não lhes acrescentar nada do que eles não contêm. O melhor historiador é aquele que se mantém o mais próximo possível dos textos”. Segundo Le Goff, esse era um postulado típico da “escola positivista”, a qual defendia a primazia dos documentos, que assumiam o lugar de prova, logo de comprovação da verdade. Le Goff acredita que a Escola dos Annales proporcionou uma revolução documental em duas medidas. Primeira, quantitativa e, segunda, qualitativa.

Quantitativa: houve uma ampliação que já foi explicada, e através dela operou-se o trato da documentação em massa, medido por seu valor em série, onde há a confrontação de vários tipos de documentos, sob várias perspectivas através das quais o objeto de pesquisa pode ser estudado. Por exemplo, ao investigar as revoluções européias de 1848 o historiador poderia acumular documentos produzidos pelas elites, pelos líderes políticos de massa, pelos filósofos, pelas classes pobres ou fazer uma análise cruzando acontecimentos políticos a dados econômicos e de crescimento demográfico, numa escala comparativa de curta ou longa duração. Na era do computador e do processamento de dados, uma vertente da história quantitativa cresceu bastante, chegando ao ponto de determinados pesquisadores da linha (os chamados “cliometras” segundo Joseph Fontana) dizer que somente esse tipo de história pode ter um conhecimento científico seguro.

E. P. Thompson fez uma crítica consistente ao tipo de história que se baseia apenas no valor quantitativo dos documentos, para o historiador inglês, os números de um cálculo estatístico pouco dizem ao historiador se não levarmos em conta o fator cultural e a mudança de um determinado contexto histórico. Ele aponta como exemplo o crescimento da média dos salários do operariado inglês durante a Revolução Industrial, que obscurecem a compreensão da conjuntura se não olharmos o crescimento proporcional do número de pobres com o aumento da população e a mudança nos costumes cotidianos destas pessoas, a noção do tempo fabril regrando a vida é uma delas.

Qualitativa: Lucien Febvre diz que o mais apaixonante do historiador é fazer falar as coisas mudas, fazê-las dizer o que elas próprias não dizem sobre os homens, sobre as sociedades que as produziram. Com os Annales, a crítica ganha um papel essencial na pesquisa histórica. Agora o historiador não precisa estar cada vez mais colado ao texto para produzir conhecimento sobre o passado, como quis Coulanges, mas sim, é necessário questionar os documentos. Diante dos enunciados escritos, por exemplo, é preciso fazer as três perguntas do método básico de análise: O que é? Por quê? Para quem? Cabe ao historiador investigar as intencionalidades por trás da existência do documento, como também o que ele diz e, portanto pretende esconder e mostrar; não mais simplesmente reproduzi-lo, pois não existe documento inócuo, objetivo, neutro, primário, todos devem ser compreendidos como instrumentos de poder. Foucault já havia apontado sobre o aspecto monumentalista de todo documento, mas ao contrário dos Annales, o filósofo-historiador não quis fazer os documentos falarem, e sim através do método arqueológico descrever os monumentos, fazendo séries e investigando a produção dos regimes de verdade, ligados as instituições de poder e saber, e as regras discursivas pelas quais tornaram possível pensar, falar e agir da maneira que pensamos, falamos e agimos a partir da modernidade.

Referências:

BENTIVOGLIO, Júlio. Cultura política e historiografia alemã no século XIX. Revista de Teoria da História – Goiânia: UFG, ano 1, nº 3, p. 20-58.
BLOCH, Marc. Apologia da história: ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BURKE, Peter. Abertura: a nova história, seu passado e seu futuro. In:_____. A escrita da história: novas perspectivas. SP: Unesp, 1992, p. 7-38.
CALDAS, Pedro. O espírito dos papeis mortos: um pequeno estudo sobre o problema da verdade histórica em Leopold Von Ranke. Emblemas – Revista do departamento de História e Ciências Sociais – UFG/CAC, v. 1, n. 3, 2007.
CANCLINI, Néstor García. Diferentes, desiguais e desconectados: mapas da interculturalidade. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2007.
FONTANA, Josep. História depois do fim da História. Bauru: Edusc, 1998.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.
LE GOFF, Jacques. Documento/monumento. In:_____. História e Memória. Campinas: Unicamp, 1996.
THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa, vol. II: a maldição de Adão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

4 comentários:

  1. Estimado Munís,

    Como falávamos numa de nossas conversas por e-mail, parece-me (por ora, como eu lá dizia) que a obra de Forastieri ("História da Historiografia", EDUSC, 2001) tenta examinar e mesmo colocar em xeque, precisamente, essa construção historiográfica consensual relativamente aos conteúdos de uma proposta de história da História como uma disciplina a partir do século XIX.

    No fim das contas, Forastieri busca em sua obra refletir acerca da historiografia produzida sobre a Nova História tendo em vista o "lugar" desta tendência historiográfica do ponto de vista da história geral da historiografia.

    Nesse sentido, apesar de ser evidente que seu texto aborde especificamente a questão "documental" da História (de fato, algo importante a expor/refletir sobre), ainda assim, eu gostaria de perguntar-lhe:

    Não acabaria por repetir o mesmo discurso, pano de fundo consensual entre a maioria dos historiadores (aquilo que, bem ou mal, Forastieri tenta problematizar em sua tese)? Ou ainda, nas palavras do próprio Forastieri naquela obra: repetiria, pois, "esse roteiro [que], além de fornecer um panorama sucinto e substantivo da evolução da história desde seu estabelecimento como disciplina no final do século XIX até o presente, também coloca à disposição do interessado, além de uma ordem sequêncial, um conjunto de conceitos que passam a circular com relativa mobilidade e, sobretudo, um cânone de autores e obras que devem estar associados a cada um dos nichos da periodização proposta pela história geral da historiografia" (p.13-14)

    Acho que isso dá o que pensar! E é justamente por conta dessas questões "de fundo", sobre as quais comentávamos naqueles nossos e-mails, que, por ora, meu ponto de vista a respeito da obra de Forastieri é distinto do seu.

    Mas é como eu já lhe disse: nossas conversas a mim interessam e muito, sobretudo porque nelas tentamos estabelecer, de fato, um diálogo.

    Gostei muito do seu texto!

    Mas fica aqui essa "provocação"... (rs)

    Um grande abraço,

    Guilherme

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    1. Oi, Guilherme.

      Apesar da nossa discussão já estar adiantada, vou tentar te responder mais para orientar quem leu meu post acima do que para satisfazer tuas provocações (bem-vindas).

      Bom, primeiro é preciso dizer que este texto é direcionado para aqueles que desconhecem a área de história ou para quem está iniciando os estudos numa graduação. Tanto é que nem me dei ao trabalho de tecer comentários ou críticas às sínteses que fiz. Este texto constitui uma pequena parte de outro escrito maior que foi usado como preparação para uma prova de mestrado (na temática sobre "documento, verdade e ficção"). Por esta razão resolvi não fazer "pitacos safados" para não causar polêmicas ou desagrados entre os avaliadores. Faz parte do jogo da academia, como sabemos.

      Sobre a obra citada do Forastieri, eu apenas li o segundo capítulo. Logo, minha opinião será somente a partir dele. Os pontos altos do texto são os seguintes: (1ª) realmente adentrar sem timidez nas obras dos autores que escreveram sobre teoria da história e história da historiografia; e (2ª) fazer uma revisão bibliográfica enorme, mostrando que realmente leu os textos, coisa que vi em poucos comentadores. Quanto ao questionamento desta linha cronológica e evolutiva da historiografia, acho bastante plausível, mas convenhamos, não é novidade. Mais do que isso, o adentramento feito por Forastieri é mais quantitativo do que qualitativo. Digo isso, porque apesar de abordar vários autores e correntes, o que ele faz é resenhar e resenhar. Em determinados momentos, fica até cansativo, sobretudo para aqueles que já leram as obras que resenhou [ele, por exemplo, resenha texto por texto dos três volumes do "Faire Histoire" organizada pelo Le Goff e Pierre Nora]. O autor consegue fazer realmente um bom apanhado da historiografia através de uma abordagem ampla (e concordo com boa parte de suas leituras e interpretações), mas seus comentários e críticas quase não aparecem e quando aparecem são já conhecidos de todos que estudam teoria. Críticas a caras como Peter Burke, que trata os Annales como sinônimo de "Nova História", e a consideração da existência de grande parte dos pressupostos teórico-metodológicos usados pela turminha de Bloch e Febvre, já aparecem em pesquisadores que ele mesmo resenha. E eu concordo! Mesmo tendo corroborado com a visão do Burke neste post acima.

      Agora, vou te devolver sua provocação. Apesar de fazer uma crítica interessante às tentativas que os historiadores empreendem ao reunir um conjunto de autores, obras e pensamentos sob uma única corrente, será que Forastieiri, por procurar estabelecer didaticamente recortes de autores e perspectivas, não acaba caindo naquilo que ele mesmo quis denunciar no início do livro? Quer dizer, aparecem recortes e marcações em sua obra que posicionam os autores favoráveis a Nova História, os resistentes, os marxistas, os pós-modernos e cada um destes possuem algumas características criadas para demarcarem suas identidades e negar as dos outros.

      Bom, é isso. Agradeço muitíssimo pela oportunidade do debate.

      Abraços,
      Munhoz.

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  2. Olá Munís,

    Sou eu quem agradeço pela oportunidade de diálogo!

    Sua resposta é bastante clara e instigante.

    Com efeito, você viu na obra de Forastieri o que ela realmente tem a oferecer; identificou na obra suas maiores contribuições (ou, como você disse, seus "pontos altos") e, por conta disso - apesar delas, ou justamente por causa delas -, identificou também suas limitações.

    Quanto a isto, minha resposta é: concordo.

    Já com relação à sua "provocação", diga-se, uma bela pergunta, embora eu concorde, acho que não há, de fato, como fugir a essa ordem de questões / problemas aos quais você busca apontar. Acho que isto pode ser dito, pois, noutras palavras, em que mais exatamente queremos aí dizer que Forastieri "acaba caindo"? A meu ver, trata-se de algo que, com uma única palavra, poderíamos identificar: hierarquização. Pois seria possível, de modo ou outro, tecer considerações acerca do motivo/tema principal da obra de Forastieri, sem no entanto "cair" ou fazer uso de classificações/hierarquizações?

    Mas talvez esta seja não outra coisa senão uma pergunta retórica. Acho que, verdadeiramente, não há como fugir de "recortes e (ou) marcações" (como você bem pontuou), senão, talvez, propor novos recortes, novas marcações, novas periodizações a um determinado tema. De modo que, penso eu, não há muito o que fazer em termos do problema de fundo colocado: não há como fugir ou deixar de lado as hierarquizações. Há?

    Baita resenha didática ou não, precisamente aí, quem sabe, situa-se a contribuição maior da obra de Forastieri: não ser aquilo que poderia ser ou mesmo que esperamos que seja, mas apenas aquilo que é.

    Em tempo: não me arrependo de ter comprado tal obra, mas, de fato, passei a enxergar com muito mais clareza suas limitações. É livro-resenha sim, básico, de consulta. E só.

    Já a obra organizada por Salomon... (gostei demais!!!)

    Abraços,

    Guilherme

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    1. Concordo contigo, Guilherme.

      Não há mesmo maneiras de se utilizar a escrita "acadêmica-científica" sem operar classificações e marcações. Mas penso que seja possível sim desenvolver uma análise ou uma analítica que prescinda das hierarquizações. Modestamente, é o que há algum tempo eu tento ao menos pensar. Ou seja, uma maneira realmente ética de tratar os autores e os pensamentos, mas para isso creio ser necessário "limpar o campo" de visão, desembaraçar-se dos falsos problemas e tentar não cair nas velhas amarrações. De todo modo, a meu ver, o maior problema não é o estabelecimento de uma hierarquia de valores (éticos, estéticos, políticos, etc.), porém o desenvolvimento de uma universalização desta hierarquia, querendo estendê-la a todos, cristalizando-a e tolhindo as diferenças. Romper as arquias não me parece tarefa fácil, sobretudo para quem está cerceado pelos muros da academia, mas é uma tarefa necessárioa, audaciosa e instigante.

      Há braços!
      Munhoz.

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