...nem deve ser. Existe uma célebre frase do poeta russo Maiakovski que diz o seguinte: “Triste a sociedade que precisa de heróis”. Compartilho da opinião do poeta por dois motivos. Primeiro porque o herói é um mito, uma fábula inventada. Não se encontram heróis nas sociedades, os que assim são chamados são pessoas de carne e osso, com “qualidades e defeitos” iguais aos outros. Os heróis são construções textuais, orais e simbólicas que visam preencher espaços vazios na incompletude do real - que se pretende forjar perfeito em alguma medida. Heróis são ilusões discursivamente fabricadas. Segundo, porque quando considera-se alguém "herói", atribui-se a essa pessoa uma responsabilidade incômoda e uma posterior cobrança das atitudes da mesma, como se ela pudesse pairar sobre a superfície como um ser não-social, diferente de todos aqueles que cotidianamente convivem e estabelecem relações e trocas culturais.

Mesmo se a escola e a educação formal se propusessem ao desenvolvimento de um projeto sério que transformasse todos os valores atuais (de competição, de lucro, de benefício próprio, de convivência passiva às desigualdades sociais, étnicas e econômicas), seria somente um pequeno barquinho remando à mão contra a correnteza forte de um rio que o levará para uma gigante cachoeira vertical.
A escola é somente uma célula da sociedade onde se desenvolvem relações culturais, nem mais nem menos significativas do que outras esferas sociais e culturais - como a família, o trabalho, os meios de comunicação e o consumo. Aliás, estes dois últimos citados atualmente são muito mais sedutores, com seus cigarros, cervejas e programas de auditório. E, como diria o cantor: “a programação existe pra manter você na frente... na frente da TV, que é pra te entreter, que é pra você não ver que o programado é você” [1]. Deste modo, é complicado (e até arrogante) o professor se colocar na contracorrente desta avalanche que levanta uma densa poeira que a todos cega. Enquanto isso, o professor que tapa os olhos até que a poeira assente, das três assertiva a seguir uma é certeira: se recusa a fazer este serviço; é chamado de louco (como no mito da caverna); ou é demitido. [2]
Temos que aceitar o fato de que a educação não vai resolver os problemas da sociedade. Até porque os problemas educacionais são apenas reflexos dos problemas políticos. Ou altera-se completamente a ordem política ou continuaremos ouvindo discursos pedagógicos vazios sobre as “maravilhas da educação com amor”. Não foi com amor que combateram o nazismo. Foi com ação! Mas será que as pessoas, não somente os professores heróis, estão dispostas a isso?
A cada dia que passa vemos empresas construindo verdadeiros impérios econômicos à custa da exploração dos recursos naturais do planeta e dos seres humanos. A única possibilidade de não ser explorado é tornando-se explorador. Para que esta competição acabe é preciso que algumas coisas mudem.
Toda essa complexa rede social está atualmente assegurada por políticos sanguessugas que ano após ano aprovam seus frondosos aumentos de salário. Da mesma maneira, a cada dois anos, vamos feito robôs lá para legitimar que isto continue, votando e alienando nossos desejos, reivindicações e ideais a outros que sequer conhecemos. Afinal, a “cidadania” não espera, não é mesmo?
Neste contexto, o que é a Escola? Nada mais do que uma instituição estatal burocratizada projetada para reproduzir toda essa série de desigualdades e injustiças. E os professores? São somente humanos, demasiado humanos.
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