Os anarquistas praticam e defendem o abstencionismo político por uma série
de motivos: rejeição à política institucionalizada; necessidade de abolição do
Estado; desconfiança na índole do sujeito que adquire autoridade sobre os
demais; desacordo à representação dos interesses e anseios, logo, à democracia
representativa; e crítica ao sufrágio universal que pressupõe a existência de
uma “vontade geral”.
Talvez esta seja a posição que melhor marca a
diferença do anarquismo moderno para as demais correntes de “esquerda”. A briga
entre Karl Marx e Mikhail Bakunin (nos anos de 1868 a 1971) dentro da Primeira
Internacional tem uma parcela de causa devido a essa estratégia específica do
anarquismo[1].
Enquanto Marx advogava em favor da necessidade de constituição de um único partido
operário para disputar as eleições na política liberal, Bakunin e outros
coletivistas revolucionários eram contra e pregavam a autonomia das federações
que integravam a Associação Internacional dos Trabalhadores. Engels disse
então que Bakunin estava disseminando a
anarquia (num sentido pejorativo) nas fileiras operárias. Porém, a negação
da participação nas eleições, votando ou se candidatando, e o respaldo no
federalismo foram ideias anarquistas que Bakunin retomou de Proudhon, falecido
em 1865; e que, tempos depois, passariam a integrar a tradição política do anarquismo.
J. Cubero (Brasil, 1926-98) |
Rocker (Alemanha, 1873-1958) |
Por isso, a política é entendida, grosso modo, como a
arte de manipular o povo, tendo em vista que este não decide nada além de quem vai decidir em seu lugar. Contudo, é necessário questionar: para os
anarquistas não existem pessoas honestas ou suficientemente capazes de
exercerem a administração das coisas e o governo dos homens? Os anarquistas agem desta
maneira porque são pessimistas demais? A segunda eu responderia que não, pelo
contrário. E a primeira é uma questão mal colocada. Por quê? Ora, porque o
problema não são, em suma, as pessoas, mas a
máquina estatal e o modelo governamental. Os anarquistas acreditam que as
pessoas podem mudar conforme o meio no qual elas vivem. A proposta ou
a intenção de ocupar um cargo estatal para, finalmente de lá dentro, transformar as
coisas, despertar a liberdade e estimular a igualdade é um engano tolo ou uma ação
traiçoeira. Rudolf Rocker (2005, p. 15), um anarquista alemão, escreve o
seguinte: “não se pode transformar um órgão de opressão social [o Estado] em um
instrumento de libertação do oprimido, assim como não se pode ouvir com os
olhos”.
Reclus (França, 1830-1905) |
Bakunin (Rússia, 1814-1876) |
Proudhon (França, 1809-1865) |
É também por se basearem no princípio de que as
vontades não são representadas que os anarquistas condenam o sufrágio
universal. Este, que é sinônimo ao direito de todos poderem votar, pouca
diferença faz na emancipação social se
a democracia, em vez de direta e autogestionária, é representativa. Comumente a
propaganda pelo voto (e sua importância na democracia) diz que é preciso
escolher bem os candidatos, pesquisá-los a fundo. Porém, Proudhon (2008, p. 91)
escreve o seguinte: “não acredito de maneira alguma, justificadamente, nesta
instituição divinatória da multidão, que a faria discernir, logo de imediato, o
mérito e a honorabilidade dos candidatos. Os exemplos são abundantes em
personagens eleitos por aclamação e que, sobre as bandeiras em que se ofereciam
aos olhos do povo arrebatado, já preparavam a trama de suas traições. Entre dez
tratantes, o povo, em seus comícios, quase que não se encontra um homem
honesto...”
Kropotkin (Rússia, 1842-1921) |
Pitacos
safados!
Já que estamos em ano de eleição surgem muitas dúvidas a respeito do voto nulo. (1ª) O voto nulo resolve? Se considerarmos que o único momento de exercer a cidadania política é votando, então ele não resolve. Aliás, nesse caso, nem votando nulo nem votando num candidato qualquer. (2ª) É verdade que se tiver 50% + 1 de votos nulos a eleição será cancelada e remarcarão outra para daqui 20 ou 30 dias? Mentira. Isso só acontece com a “nulidade” dos votos: erros eleitorais, extravios, corrupções etc. Não se refere aos votos corretos desejadamente “nulos”. (3ª) Votando nulo estarei favorecendo para que o pior candidato se eleja? Isso não faz diferença, pessoal! Afinal, quem garante que os candidatos que têm mais votos são os melhores e mais capacitados? É apenas uma questão de quantidade de votos.
Já que estamos em ano de eleição surgem muitas dúvidas a respeito do voto nulo. (1ª) O voto nulo resolve? Se considerarmos que o único momento de exercer a cidadania política é votando, então ele não resolve. Aliás, nesse caso, nem votando nulo nem votando num candidato qualquer. (2ª) É verdade que se tiver 50% + 1 de votos nulos a eleição será cancelada e remarcarão outra para daqui 20 ou 30 dias? Mentira. Isso só acontece com a “nulidade” dos votos: erros eleitorais, extravios, corrupções etc. Não se refere aos votos corretos desejadamente “nulos”. (3ª) Votando nulo estarei favorecendo para que o pior candidato se eleja? Isso não faz diferença, pessoal! Afinal, quem garante que os candidatos que têm mais votos são os melhores e mais capacitados? É apenas uma questão de quantidade de votos.
Enfim, é isso! Espero que os autores anarquistas
possam ajudar em futuras reflexões políticas.
Referências:
BAKUNIN, Mikhail. Polêmica com Marx. In:______. Textos anarquistas. Porto Alegre:
L&PM, 2006, p. 118-131.
CUBERO, Jaime. As ideias-força do anarquismo. Revista Verve. São Paulo: PUC-SP, nº 4,
p. 265-277, outubro, 2003.
KROPOTKIN, Piotr. Os direitos políticos. In:______.
Palavras de um revoltado. São Paulo: Imaginário, 2005, p. 45-50.
PROUDHON,
Pierre-Joseph. Sobre o princípio da associação. Revista Verve. São
Paulo, PUC-SP, n° 10, p. 44-74, outubro, 2006.
PROUDHON,
Pierre-Joseph. Proudhon e as candidaturas operárias: 1863-1864. In:______. A propriedade é um roubo. Seleção e
notas de Daniel Guerin. Porto Alegre: L&PM, 2008, p. 100-132.
RECLUS, Élisée. Por
que os anarquistas não votam? Revista Mother Earth. Acessado em: http://www.nodo50.org/aversaoaoestado/porque_os_anarquistas_nao_votam.htm
ROCKER, Rudolf. A
ideologia do anarquismo. São Paulo: Faísca, 2005.
[1]
Outras razões desta disputa podem ser vistas no post: Cartas contra Bakunin.
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Voté... Nulô!
ResponderExcluirQuero ser membro do anarquista.
ResponderExcluirVotar nulo é perda de tempo! Faça como eu: nem vote! Deixe aquela merda de título ser cancelada e foda-se!
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