sábado, 29 de outubro de 2011

Professor não é super-herói...

...nem deve ser. Existe uma célebre frase do poeta russo Maiakovski que diz o seguinte: “Triste a sociedade que precisa de heróis”. Compartilho da opinião do poeta por dois motivos. Primeiro porque o herói é um mito, uma fábula inventada. Não se encontram heróis nas sociedades, os que assim são chamados são pessoas de carne e osso, com “qualidades e defeitos” iguais aos outros. Os heróis são construções textuais, orais e simbólicas que visam preencher espaços vazios na incompletude do real - que se pretende forjar perfeito em alguma medida. Heróis são ilusões discursivamente fabricadas. Segundo, porque quando considera-se alguém "herói", atribui-se a essa pessoa uma responsabilidade incômoda e uma posterior cobrança das atitudes da mesma, como se ela pudesse pairar sobre a superfície como um ser não-social, diferente de todos aqueles que cotidianamente convivem e estabelecem relações e trocas culturais.
Cansamos de ouvir frases do tipo: “o professor precisa... o professor deve...” Deste modo, parece que o professor precisa ser impecável, pois possui uma responsabilidade imensa. Mas será que possui mesmo? Parece-me que a sociedade espera que o professor ensine-a a ser o que ela não é e o que ela não quer ser. Ou então ensine aos jovens as coisas que todo mundo já se deu conta de que está "errado", mas continua fazendo. Fico em dúvida se isso é sintoma da hipocrisia ou da esquizofrenia da sociedade capitalista.
Mesmo se a escola e a educação formal se propusessem ao desenvolvimento de um projeto sério que transformasse todos os valores atuais (de competição, de lucro, de benefício próprio, de convivência passiva às desigualdades sociais, étnicas e econômicas), seria somente um pequeno barquinho remando à mão contra a correnteza forte de um rio que o levará para uma gigante cachoeira vertical.
A escola é somente uma célula da sociedade onde se desenvolvem relações culturais, nem mais nem menos significativas do que outras esferas sociais e culturais - como a família, o trabalho, os meios de comunicação e o consumo. Aliás, estes dois últimos citados atualmente são muito mais sedutores, com seus cigarros, cervejas e programas de auditório. E, como diria o cantor: “a programação existe pra manter você na frente... na frente da TV, que é pra te entreter, que é pra você não ver que o programado é você” [1]. Deste modo, é complicado (e até arrogante) o professor se colocar na contracorrente desta avalanche que levanta uma densa poeira que a todos cega. Enquanto isso, o professor que tapa os olhos até que a poeira assente, das três assertiva a seguir uma é certeira: se recusa a fazer este serviço; é chamado de louco (como no mito da caverna); ou é demitido. [2]
Temos que aceitar o fato de que a educação não vai resolver os problemas da sociedade. Até porque os problemas educacionais são apenas reflexos dos problemas políticos. Ou altera-se completamente a ordem política ou continuaremos ouvindo discursos pedagógicos vazios sobre as “maravilhas da educação com amor”. Não foi com amor que combateram o nazismo. Foi com ação! Mas será que as pessoas, não somente os professores heróis, estão dispostas a isso?
A cada dia que passa vemos empresas construindo verdadeiros impérios econômicos à custa da exploração dos recursos naturais do planeta e dos seres humanos. A única possibilidade de não ser explorado é tornando-se explorador. Para que esta competição acabe é preciso que algumas coisas mudem.
Toda essa complexa rede social está atualmente assegurada por políticos sanguessugas que ano após ano aprovam seus frondosos aumentos de salário. Da mesma maneira, a cada dois anos, vamos feito robôs lá para legitimar que isto continue, votando e alienando nossos desejos, reivindicações e ideais a outros que sequer conhecemos. Afinal, a “cidadania” não espera, não é mesmo?
Neste contexto, o que é a Escola? Nada mais do que uma instituição estatal burocratizada projetada para reproduzir toda essa série de desigualdades e injustiças. E os professores? São somente humanos, demasiado humanos.
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[1] “Até Quando?” Música de Gabriel, o pensador.
[2] Paulo Freire diz que o profissional da educação que realmente acredita na transformação social e defende seus princípios tem de estar disposto a perder seu emprego.

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