Este post é bem simples. Quero
compartilhar com vocês a indicação de três filmes que assisti recentemente e
que considero interessantes para conhecer e pensar as questões políticas
ligadas ao conflito Palestina-Israel a partir do século 20; sobretudo para
serem trabalhadas em sala de aula. Obviamente, isso deve ser feito através dos
aparatos técnicos e teóricos de cada disciplina para estabelecer a crítica
fílmica. No texto que se segue não farei uma análise das três obras cinematográficas,
apenas uma apresentação dos enredos e algumas questões que podem ser suscitadas
por cada um deles. Feito isso, compartilharei links para baixá-los via torrent.
[1º] Ocupação 101: a voz silenciada da maioria (Occupation 101)
“O maior inimigo do conhecimento
não é a ignorância... é a ilusão do conhecimento”. É com esta frase do físico
Stephen Hawking que este documentário produzido em 2006 nos Estados Unidos se
inicia. O filme procura fazer uma abordagem histórica do conflito no território
a partir do sionismo do final do século 19, que seria então uma forma de
resposta ao repúdio que os judeus sofriam em toda a Europa antes mesmo do
Holocausto. Defendendo a ideia de que o lugar era densamente ocupado por
palestinos e não se tratava de uma terra devoluta, como algumas posições
antipalestinas advogam, a obra almeja demonstrar que havia um acordo após a
Segunda Guerra Mundial para a constituição de dois Estados: um israelense e
outro palestino. No entanto, embora a população fosse majoritariamente palestina,
o projeto fronteiriço recortava uma parte maior destinada à criação do Estado
de Israel que, por sua vez, obteve também o solo mais produtivo.
A isto se seguiu uma ocupação
forçada das cidades tidas como dentro do território israelense. Pessoas foram
retiradas de suas casas através da violência do aparato bélico de Israel. É a
partir daí que começarão os conflitos que assistimos hoje entre israelenses e
palestinos, entre judeus e árabes, naquela terra. E não como a visão hegemônica
costuma entender, dizendo que sempre existiu essa “guerra” ou que ela dura mais
de dois mil anos. Por meio de entrevistas com intelectuais (como Noam Chomsky)
e de depoimentos de testemunhas, o documentário afirma que, antes da ocupação
forçada, árabes e judeus conviviam pacificamente na Palestina. Outra questão
interessante alçada pela obra refere-se aos lobbies
políticos que os judeus possuem com o governo dos EUA, financiando campanhas
eleitorais e se beneficiando do acordo entre empresas judias e políticos
estadunidenses. Aspecto este retratado também numa recente série de sucesso na
terra do Tio Sam, chamada House of Cards.
Não encontrei o trailer do filme
com legendas em português, por isso deixarei abaixo um trecho do filme
legendado. Nesta cena se destaca as crianças como personagens do conflito e a
maneira como este as afeta psicológica e fisicamente.
Link para baixar o filme completo
via torrent: clique aqui!
Outra possibilidade é assistir o
filme através do YouTube. Porém, ele
se encontra fragmentado em nove partes. Segue aqui a primeira:
[2º] Cinco câmeras quebradas (Five
broken câmeras, 2011)
Este documentário singular, em
todos os sentidos, foi gravado por um camponês palestino, Emad Burnat, em 2005,
ano em que houve a construção de um muro (como tantos outros) numa cidade na
região da Cisjordânia com a justificativa de proteção, porém com o intuito de
ocupação de terras palestinas pelos colonos judeus. A produção que concorreu ao
Oscar 2013, como melhor documentário estrangeiro, narra e vivencia o cotidiano
dos diversos conflitos, imposições e resistências na cidade de Bil’in. As cinco
câmeras quebradas as quais o título do filme se refere são os aparelhos de
filmagem utilizados por Emad e que são destruídos pelas mãos ou por balas dos
soldados israelenses durante os conflitos que ele gravou. O que me chamou
atenção na obra foi a ligação da família palestina com o Brasil, afora as
crianças vestidas com uniforme da seleção brasileira de futebol, há também
bandeiras do Brasil na porta da casa de Emad e em uma de suas câmeras. No filme
diz que durante algum tempo, sua esposa, Soraya, morou no Brasil. Outro fato
curioso, externo à produção em si, foi a breve detenção de Emad e de sua
família no aeroporto estadunidense quando aportaram em Los Angeles para a festa
de premiação do Oscar deste ano. Michael Moore foi quem mediou a liberação de
Emad. “Parece que eles não conseguiam entender como um palestino podia ter sido
indicado ao Oscar”, afirmou Moore. Vejam a notícia completa e uma apresentação
mais detalhada do filme no Brasil de Fato.
Trailer do filme com legendas em inglês (não achei em português):
Link para baixar o filme completo
via torrent: clique aqui!
Cabe aqui também apresentar as
importantes intervenções feitas pelo um grupo anarquista, formado por
israelenses, conhecido como “Anarquistas Contra o Muro”. Esta organização luta
em favor da derrubada dos muros em construção ou já construídos pelo governo
israelense, pois entendem que estes são dispositivos de um Apartheid que cerceia a liberdade dos palestinos. Para saberem mais
deixo alguns links:
Site da organização (em inglês).
Declaração dos Anarquistas Contra o Muro, escrita em 2004.
Apresentação do grupo pelo Wikipedia.
[3º] O limoeiro (Lemon Tree,
2008)
Dirigido pelo israelense Eran Riklin,
O limoeiro, diferentemente dos outros
dois filmes mencionados, não se trata de um documentário, mas de uma narrativa representada
por atores profissionais, baseada em acontecimentos reais. Sem dúvida é um dos
filmes mais doces e singelos que já assisti. A trama se inicia quando o Ministro
da Defesa israelense muda-se para a fronteira entre Israel e Cisjordânia (o
lado oeste do rio Jordão). Sua vizinha Salma Zidane é uma viúva palestina que mora
sozinha e possui uma humilde plantação de limão, da qual retira sua renda. Os
governantes israelenses então entendem que a plantação representa um perigo a
suas integridades, alegando que ela poderia ser usada como esconderijo para
ataques terroristas. E decidem através da lei destruir as árvores da sra.
Zidane. Daí segue-se um longo litígio que repercute internacionalmente. O
interessante no filme é perceber como questões macro-políticas interferem de
maneira direta na vida cotidiana das pessoas comuns. A posição delicada de uma
mulher viúva na cultura islâmica também é colocada em xeque na medida em que a
personagem principal relaciona-se com seu advogado e sofre repúdios de membros de
sua comunidade, para os quais a figura do marido falecido deve ser sempre
respeitada.
Trailer do filme em espanhol (não
encontrei com legendas em português):
Referências:
ABRÃO, Baby Siqueira. A palestina
vai ao Oscar. E é detida no aeroporto. In: Brasil
de Fato: uma visão popular do Brasil e do mundo. São Paulo, 21 fev. 2013.
CINCO Câmeras Quebradas (5 Broken Cameras). Direção: Emad Burnat
& Guy Davidi. Gênero: Documentário. País: Palestina/Israel/França/Holanda.
2011. DVD, colorido, 94min.
LIMOEIRO, o. (Lemon Tree – Etz Limon). Direção: Eran Riklis. Roteiro: Eran Riklis
e Suha Arraf. Gênero: Drama. País: Israel/França/Alemanha. 2008. DVD, colorido,
106min.
OCUPAÇÃO 101: a voz da maioria
silenciada (Occupation 101: Voice of the
Silenced Majority). Direção e produção: Sufyan Omeish & Abdallah Omeish. Gênero:
Documentário. País: Estados Unidos. 2006. DVD, colorido, 90min.