Frank Ankersmit é um historiador holandês
que defende (ou defendia) uma escrita da história a partir de pressupostos
teóricos e metodológicos pós-modernos. O pesquisador publicou um artigo em 2001,
no Brasil, intitulado “Historiografia e pós-modernismo”, do qual eu parto para
discutir a questão levantada no título. Esse debate me parece importante porque
atualmente tem se usado com frequência o adjetivo “pós-moderno” para
desqualificar uma determinada atitude, visão de mundo ou perspectiva de
pesquisa de uma série de autores que são muito diferentes entre si. O que mostra
uma total falta de critério na análise. Sendo assim, será interessante
apresentar os argumentos de um historiador que se caracteriza como
pós-modernista.
O
conceito de pós-modernidade
Embora o termo já estivesse em uso pela
arquitetura e outras áreas, ele se efetivou em 1979 quando foi enunciado pelo
filósofo francês Jean-François Lyotard. Para este, a pós-modernidade designa “o
estado atual da cultura após as transformações que afetaram as regras dos jogos
da ciência, da literatura e das artes a partir do final do século 19” (2009, p.
xv). Pensa-se, portanto, na crise dos relatos. Mas que relatos seriam esses? Os
relatos são narrativas especulativas que procuram organizar uma sequência
lógica dos argumentos para convencer o interlocutor de algo (procura-se o
consenso e não a verdade propriamente). A ciência é casuística, aplicando-se às
particularidades de cada caso, tratando-os em sua especificidade, e, por isso
situa os relatos à margem. Porém a ciência precisa deles para constituir sua
fundamentação – de ordem filosófica especulativa. Para suprir a necessidade de
um relato que justifique seu
procedimento que embasa o saber científico, a ciência cria um metarrelato ou
uma metanarrativa. Ou seja, uma
grande narrativa (explicativa) generalizante que engloba e submete as pequenas
narrativas à sua autoridade. Uma espécie de metafísica da linguagem.
Lyotard diz que para o moderno “a regra do consenso entre
remetente e destinatário de um enunciado com valor de verdade será tida como
aceitável, se ela se inscreve na perspectiva de uma unanimidade possível das
mentalidades racionais: foi este o relato do Iluminismo, onde o herói do saber
trabalha por um fim ético-político, a paz universal” (p. xvi). Isso acaba
justificando as instituições sociais (o Estado, por exemplo) e o vínculo social
(o que é comum entre todos), pois se acredita no metarrelato, numa filosofia da história em direção ao
progresso.
Condição
histórica da existência do pós-modernismo
Entretanto, a experiência histórica
das duas guerras mundiais, dos totalitarismos e do holocausto pôs abaixo a
crença no metarrelato do Iluminismo e, por extensão, a fé que a ciência nos
levaria ao progresso ininterrupto. Lyotard, usando a dialética, deixa claro que
a ciência criou sua própria contradição ao classificar os relatos como fábulas.
Portanto, a pós-modernidade faz parte do processo evolutivo da modernidade, que
designa a incredulidade diante das metanarrativas.
Com o tom pesaroso ao anunciar a
descrença nos metarrelatos, Ankersmit propõe, de maneira meio desconfiada de si
mesmo e resignada à situação histórica, um modelo de escrita do passado mais
para sanar um problema que foi colocado pela impossibilidade da história ser
uma ciência objetiva, do que para comemorar a libertação das grandes narrativas. O problema para Ankersmit, gerado por esta condição, é que houve um excesso de publicações de pesquisas sobre
história nos últimos 150 anos, o qual levou uma diluição do passado. Não temos
mais um elo direto com este, porque agora existem muitas interpretações e cada
vez mais estas abundam. Nessa profusão de pesquisas e de textos, o passado não
existe mais em si mesmo, mas apenas em interpretações. Ele dá o exemplo dos
estudos da obra de Hobbes, com suas dezenas de comentadores e intérpretes. São
tantas as análises valiosas e distintas que a obra em si se perdeu nesse imenso
mar de interpretação. Nem a obra pode ser ainda um meio de arbitrar tais
interpretações. O que leva-nos a entender que (para o holandês) era melhor
quando existia somente uma interpretação, logo ela não era tratada como “uma
interpretação”, mas o acontecimento do passado em si mesmo.[1]
Ankersmit cita inclusive um historiador que queria criar uma espécie de teoria
da história que estivesse de fora dessa seara de interpretações, para arbitrar
sobre elas, mas obviamente este seria somente outro ponto de vista, outra
interpretação.
Uma das saídas para o acesso direto
com o passado foi trilhada pela Escola dos Annales
quando os pesquisadores desta corrente começaram a pesquisar temas nunca estudados. No entanto, isso
não durara tanto tempo, pois logo outros pesquisadores se debruçaram sobre os
mesmos objetos, criando novas interpretações destes. Então, o jeito é
resignar-se mesmo à condição pós-modernista do saber histórico! A impressão que
dá é que Ankersmit chega a essa conclusão assim como Walter Benjamin lamentava
a perda da aura da obra de arte devido a sua reprodutibilidade técnica e massiva.
Vejamos então as perspectivas e possibilidades da historiografia pós-moderna
defendida pelo historiador holandês:
Características da historiografia pós-moderna segundo Ankersmit
1ª) A informação se multiplica. Quanto
mais interessante ela for, mais outras informações vão ser geradas a partir
dela. Isso é o contrário da visão modernista, na qual a informação
significativa é a que põe fim às demais análises.
2ª) A desconstrução da causalidade é
um procedimento de pesquisa. A relação entre causa e efeito é repensada, não
havendo uma necessidade entre as duas. Questiona-se a conexão que o historiador
estabelece entre os documentos e os eventos. Considera-se a contingência e o
acaso. “A reversibilidade de padrões de pensamento e de categorias de
pensamento é enfatizada, sem a sugestão de uma alternativa definida” (p. 119).
3ª) No olhar do pós-modernista, as
evidências não apontam para o passado, mas sim para interpretações do passado,
pois é para tanto que usamos essas evidências. Para o modernista, a evidência é
um azulejo que ele levanta para ver o que está por baixo, para o pós-modernista,
ela é um azulejo sobre o qual ele pisa para chegar a outros azulejos;
horizontalmente em vez de verticalmente (p. 124).
F. Ankersmit (1945) |
4ª) A mentalidade de uma era se
revela a medida que entra em contato com outro período. É dada atenção ao
não-dito, que remonta um exame psicanalítico. O segredo na personalidade de um
indivíduo, de um povo, de um grupo, de uma época, está no que apenas raramente
se torna visível por detrás do que normalmente é exposto. A historiografia
pós-moderna abre sua tendência a partir da história das mentalidades, segundo
Ankersmit. São as migalhas, os pequenos erros e os raros momentos em que o
passado se libera, que nos levam a descobrir o que nos é realmente importante.
Substitui-se uma história do macro-estrutural por uma história
micro-situacional. O autor usa a metáfora da História como uma árvore, assim, ao
invés da historiografia pós-modernista almejar descrever e analisar o tronco ou
os galhos, como os modernistas tentaram, ela foca nas folhas dessa árvore,
fugindo do essencialismo. A preocupação é com o fragmento, com o descontínuo,
pois atualmente nos desligamos do contexto histórico, e também como já foi dito,
porque parte do pressuposto de que a escrita da história não é chegar ao tronco
da árvore, o que seria ilusório, mas apenas nas folhas que logo serão
arrancadas pelo vento. Exemplos de historiadores dessa linha: Carlo Ginzburg,
Natalie Zemon Davis, Le Roy Ladurie, Georges Duby (p. 128).
5ª) O pós-modernista quer entender
como a ciência e a informação científica funcionam, não criar regras para elas,
muito menos checar a relação delas com a sociedade. A historiografia
pós-moderna não rejeita a científica, mas chama atenção para seu ciclo vicioso,
que quer que acreditemos que nada existe fora dela. Mas, fora dela estão todos
os domínios, significados e propósitos históricos (2001, p. 133).
6ª) Os relatos sobre o passado
possuem natureza metafórica e não literais. É que o foco não está mais no
passado em si, mas na incongruência entre passado e presente, entre linguagem
que usamos para falar do passado e o passado em si. Tal afirmação é
fundamentada porque, segundo Ankersmit, a escolha das palavras e da forma pela
qual o texto histórico é construído faz com que ele possua uma opacidade
similar a do texto literário, ele atrai a atenção para si mesmo, em vez de
atrair atenção para uma realidade fictícia ou histórica por trás do texto. Sob
esse viés, a (escrita da) história estaria próxima da arte, pois ela não somente
representa a realidade, como também a substitui, criando uma pseudo-realidade
que está dentro da realidade. Enquanto isso, o texto se afastaria da linguagem
da ciência, que tem a pretensão de ser transparente e de centralizar as
interpretações numa só – objetivo almejado pela historiografia moderna que se
mostrou fracassado.[2]
7ª) Chegou o momento de pensar sobre o passado, mais do que de
escavá-lo e investigá-lo, sobretudo, juntando as peças dos últimos 150 anos de
pesquisa histórica (p. 131).
Pitacos
safados!
Primeiro gostaria de salientar que
existem diferenças consideráveis entre o pós-modernismo descrito por Ankersmit
e o que se chama de Teoria Francesa
ou de pós-estruturalismo de autores (pelo menos os que conheço um
pouquinho) como Deleuze, Rancière, Foucault – mesmo entre estes há diferenças
importantes. Por isso, pretendo num próximo texto mostrar em linhas gerais tais
diferenças entre o pós-modernismo e o pós-estruturalismo.
O texto de Ankersmit apresenta
pontos interessantes, como, por exemplo, pensar uma maneira criativa, honesta e
humilde de escrever a história frente às impossibilidades do conhecimento
imediato do passado, isto é, do que de fato ocorreu independente de interpretações – diferente
do que a maioria pensava no séc. 19 (e muitos ainda hoje). Entretanto, ele
esbarra numa série de dificuldades em estabelecer
critérios para o tipo de historiografia que designa como pós-moderna. A
mais gritante foi, sem dúvida, a inclusão de autores na lista pós-moderna como
Ginzburg, Duby e Natalie Davis, e vertentes como a história das mentalidades
(integrada aos Annales).
A micro-história de Ginzburg não rompe com a história social, apenas
faz um recorte diferente do objeto de pesquisa, que parte da vida de um
indivíduo, de um grupo, de uma obra para entender e descrever a série de
relações estabelecidas com um contexto histórico ao qual está ligado. Portanto,
não está “desligado” do contexto, tampouco pensa em estudar o particular
separado de sua articulação com o universal. A circulação de conhecimento,
informação e costumes entre “cultura popular” e “cultura erudita” defendida por
Ginzburg pretende desenhar uma totalidade a partir de um fragmento, por isso
parte da folha (verde e firme) para compreender os galhos e o tronco, se
utilizarmos a metáfora de Ankersmit.[3]
A questão que liga ao contexto histórico
também pode ser aplicada à historia das mentalidades, uma vez que esta não rompe com o
procedimento, nem com a perspectiva de história do século 19 – vincular pessoa,
obra e época: esta última categoria como uma série de acontecimentos ligados
por uma relação de causa e efeito.
Nesse caso, explicando de maneira bem didática, o método para compreensão do
passado é feito a partir de uma descrição geral da cultura em totalidade (de uma
classe ou de um grupo numa época e num lugar) para submeter tudo o que é produzido
ali como pertencente ao conjunto descrito. Duby, por exemplo, biografa
Guilherme Marechal para chegar ao conjunto de pensamentos e comportamentos comuns
de uma classe de cavaleiros da Idade Média. Febvre, fundador da Revista dos Annales, já fazia história das
mentalidades quando disse que não era possível Rabelais ser ateu no século 16;
simplesmente porque as pessoas não se colocavam a pergunta sobre a existência
ou não de Deus, os utensílios mentais (nos dizeres de Chartier) da época não
proporcionavam qualquer possibilidade de alguém ser ateu.[4]
Esse tipo de pesquisa não tem nada de fragmentário, de contingente ou de
descontínuo.
Se os pós-modernistas acreditam que a
informação significativa produz outra diferente, duvido muito que Ginzburg
aceitaria uma interpretação distinta que procure compreender o que aconteceu
com seu biografado Menocchio sem levar em consideração dois acontecimentos “macros”,
a invenção da imprensa e a reforma protestante (desconstruindo suas análises).
Mais do que isso, Ankersmit diz que a história
social é essencialista, pois quer reconstruir
o passado a partir de evidências, e por isso se distancia do pós-modernismo, porém
inclui uma autora da história social na lista dos pós-modernos (Natalie Davis).
O mesmo pode se aplicar ao programa dos Annales
que prende fazer uma história total ou história síntese (que engloba sociedade,
cultura, economia, linguagem, etc.), mesmo escolhendo temas antes não-estudados,
concebe a articulação dos mesmos a uma totalidade. Nesse sentido, fica ainda a
pergunta: quais são os critérios plausíveis para se definir uma historiografia pós-moderna e quem seriam seus representantes?
Referências:
ANKERSMIT, Frank. Historiografia e
pós-modernismo. Revista Topoi, Rio
de Janeiro, vol. 2, n. 2, p. 113-135, mar., 2001.
LYOTARD, François. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro:
José Olympio, 2009.
RANCIÈRE,
Jacques. A poética do saber: sobre os nomes da história. Urdimento – Revista de Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis,
vol. 1, n. 15, p. 33-44, out., 2010.
SADER, Emir. As palavras e as
coisas. In: Carta Maior, 22-03-2007.
[1]
Para Rancière há um problema sério quando se confunde realidade histórica com
verdade histórica, pois a realidade é o que aconteceu de fato, é o passado, seu
acesso é (im)possibilitado pela linguagem (imagética, escrita) que mostra e
oculta ao mesmo tempo o fato. No entanto, às vezes a interpretação presente no
texto historiográfico, que faz uma série de conexões nem sempre necessárias ou
inevitáveis, acaba sobrepondo-se à própria realidade, tornando-se mais real que
esta, quando, por exemplo, aceita-se uma verdade histórica de um evento e não questiona-se
se poderia ter sido diferente ou ocorrido uma outra coisa que não tem nada a
ver com o que foi escrito e consentido pela comunidade. A revolução francesa
pode ser um exemplo nesse caso, segundo o autor. Ver: RANCIÈRE, J. A poética do
saber: sobre os nomes da história. Urdimento
– Revista de Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, vol. 1, n. 15, p. 33-44,
out., 2010. [2]
Concordo em certa medida com a afirmação de Ankersmit, sobretudo acerca da escolha
dos meios descritivos ou da presença destes de maneira meio que inconsciente
feita pela subjetividade do historiador ou do jornalista, por exemplo. Não pude
esquecer-me do texto que li recentemente de Emir Sader sobre a escolha
estratégica de como contar uma notícia, por mais imparcial que ela possa
parecer em sua narração. Mas desconfio se houve algum dia um texto que fosse
realmente neutro, talvez por não existirem outros sobre o mesmo assunto ele
podia se passar de neutro. Neste caso, ao contrário de Ankersmit que pensa o
excesso de informações uma falta de civilização, eu acho mais interessante essa
quantidade em abundância das interpretações do que só haver uma que passe a
ilusão da realidade tal qual aconteceu. Deixo o link do texto de Emir Sader.
Vale muito à pena conferir, até porque se notarem bem o jornalista também
defende uma posição bem clara: http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=104
(SADER, E. As palavras e as coisas. In: Carta Maior, 22-03-2007).
[3] Mais sobre a biografia de Ginzburg em: Da (im)possibilidade de historiar uma vida.
[4] Essa questão foi discutida em outro texto do blog, chamado "Sobre anacronismo".
[3] Mais sobre a biografia de Ginzburg em: Da (im)possibilidade de historiar uma vida.
[4] Essa questão foi discutida em outro texto do blog, chamado "Sobre anacronismo".
O problema da História com seu passado se resume a apenas um: a questão do tempo. Enquanto não levarmos o tempo até suas últimas consequência (como o cinema e outras artes já o fazem) não conseguiremos nunca alcançar e ultrapassar a linguagem do e sobre o passado.
ResponderExcluirPenso que a história tem vários problemas e problemáticas no âmbito do conhecimento teórico que fundamente seu saber, mas concordo contigo de que talvez o principal seja mesmo a questão do tempo, que temos pensado pouco sobre, inclusive a partir da noção de tempo virtual da contemporaneidade (para não falar dos outros tempos: messiânico, estrutural, eterno, descontínuo, múltiplo, coexistente, acrônico, etc.). Parece-me haver uma tensão entre o tempo e a linguagem que precisa ser pensada melhor se quisermos escrever alguma coisa que faça sentido a vida das pessoas. Não é uma tarefa nada fácil, mas é um desafio lançado para os audaciosos historiadores do presente (e do futuro). Valeu pelo comentário, Rafael.
ExcluirAbraço!
E aí Munhoz, tudo bom?
ResponderExcluirGostei do teu texto, bem articulado. Pós-modernismo é um tema que me interessa bastante porque trabalho com essa perspectiva em minhas pesquisas. Ao que parece, essa é uma discussão que ainda vai render muito pano pra manga. Por mais que não gostemos de certas posturas dos pós-modernistas, há algo positivo: eles tiraram a historiografia de sua idade da inocência. E a História foi muito mais abalada por essa discussão do que as outras ciências sociais. Poucas áreas tiveram sua pretensão de cientificidade tão questionada como a História. As questões da linguagem, da diacronia pesaram muito nas análises de alguns autores. E nós sentimos isso mais fortemente devido à influência francesa que recebemos, pois a historiografia alemã parece ter ficado praticamente incólume a esse processo.
Ainda não conhecia esse texto do Ankersmit, mas a questão que ele levanta sobre as múltiplas análises de um autor é interessante. Outro dia eu estava lendo a Marilena Chauí comentando que na Filosofia, essa pluralidade em torno do pensamento de Platão, Hobbes ou Kant, por exemplo, mostra apenas que esses autores criaram uma posteridade através de suas obras. Ao que pergunto por que os historiadores não conseguem encarar isso com a mesma naturalidade? Falando coloquialmente, parece que a historiografia francesa entrou nesse labirinto de cabeça e não conseguiu sair. Claro, não foram somente eles, mas eles puxaram a carroça.
Abraço
Bertone
Tudo beleza, Bertone!
ExcluirRealmente é essa a impressão que dá. Que a discussão é porosa e está apenas no começo. Mas a questão principal em jogo é esse conceito de "pós-modernidade". Não me parece uma categoria que rompa com a ideia de um tempo evolutivo e homogêneo, um recorte bem delimitado como a historiografia inspirada em Hegel costuma fazer. Mais do que isso, os autores que utilizam o termo em sua maioria fazem uma leitura de Nietzsche, Marx e Freud, que estão na modernidade - se concordarmos em chamar um período aí longo por esse nome também. Sem dúvida, a maior influencia sobre a academia brasileira vem da França, mas esse debate de pós-modernidade, questionamento da cientificidade através da linguagem (e do pragmatismo) me parece ter aparecido com autores anglófonos como Wittgenstein (escrevia em inglês), William James, John Searle, etc. Tanto que o livro "Condição Pós-Moderna" do francês Lyotard foi escrito nos EUA quando ele dava aulas lá. O problema é que se convencionou chamar de pós-moderno todos os autores que não pensam mais como no século 19, aí sim vem a galera herdeira de Sausurre e a que pensou para além dele (Levi-Strauus, Althusser, Barthes, Foucault, Deleuze, Rancière, Derrida e outros). Mais interessante ainda é perceber que a historiografia alemã (do 19) tão criticada pela Escola dos Annales (que intentava constituir uma ciência - sociologia histórica ou coisa assim), já pensava nos elementos artísticos da história e em muitas coisas que só nos demos conta com as críticas do giro-linguístico; embora, é claro, que essa mesma historiografia tenha optado por fazer ciência, pensando teoria e métodos.
Sobre a pluralidade de interpretação já vi autores (brasileiros mesmo) dizendo que estaria tudo bem se elas não entrassem em conflito umas com as outras, sem necessariamente uma estar mais correta do que outra. Eu penso diferente, acho que essa pluralidade e esses conflitos são próprios de uma democracia, onde as partes não estão determinadas a priori e podem ser sempre questionadas, colocada em discussão. O consenso nunca me atraiu muito. Se então for forçado pode até abolir a democracia. Bom, é isso. Nada mais que disparates de quem fica lendo "teoria da história". Obrigado pela visita!!!
Abraços!